Era véspera de Ano Novo em Camelot. O grande salão estava decorado com ramos verdes e bagas vermelhas. O Rei Arthur, a Rainha Guinevere e todos os Cavaleiros da Távola Redonda estavam reunidos para um magnífico banquete.
Havia música, risadas e alegria. Era a festa mais importante do ano!
Arthur tinha uma tradição: ele nunca comia no Ano Novo até que algo maravilhoso acontecesse - uma aventura extraordinária, uma história incrível, ou um desafio digno de seus cavaleiros.
Todos estavam esperando para ver que maravilha aconteceria este ano.
De repente, as grandes portas do salão se abriram com um ESTRONDO!
Entrou a figura mais estranha que alguém já tinha visto!
Era um cavaleiro imenso, montado num cavalo gigante. Mas o mais extraordinário era isto: TUDO nele era verde!
Sua pele era verde como grama.
Seu cabelo era verde como folhas.
Suas roupas eram verde-esmeralda.
Seu cavalo era verde como musgo.
Até sua armadura brilhava com tons de verde!
E em suas mãos, ele carregava duas coisas: um machado enorme... e um ramo de azevinho!
O salão ficou em silêncio absoluto. Todos olhavam boquiabertos.
O Cavaleiro Verde cavalgou até o centro do salão e falou com voz trovejante:
Arthur se levantou. "Eu sou Arthur, Rei desta terra. Seja bem-vindo a Camelot! Que jogo você propõe?"
O Cavaleiro Verde riu - uma risada profunda e estranha. "Um jogo simples! Alguém aqui pode me dar um golpe com este machado. Um único golpe, tão forte quanto quiser!"
Os cavaleiros se entreolharam. Isso parecia fácil demais!
"Mas," continuou o Cavaleiro Verde com um sorriso sinistro, "há uma condição. Daqui a um ano e um dia, aquele que me golpear deve vir me encontrar em minha Capela Verde. Lá, eu darei UM golpe nele, assim como ele me deu!"
Agora os cavaleiros entenderam. Não era um jogo justo! Quem golpeasse o Cavaleiro Verde teria que receber um golpe de volta um ano depois!
Ninguém se moveu. Ninguém falou.
Arthur ficou vermelho de raiva. Seus cavaleiros pareciam covardes! Ele pegou o machado. "Se ninguém aceita, eu mesmo aceito!"
Mas antes que Arthur pudesse agir, um jovem cavaleiro se levantou.
"Meu rei," disse o jovem cavaleiro, "permita que eu aceite este desafio. Sou o mais fraco e menos sábio destes cavaleiros. Não serei grande perda se falhar. Mas você, meu rei, é precioso demais para arriscar!"
Era Sir Gawain, sobrinho de Arthur! Um dos cavaleiros mais nobres da Távola Redonda!
Arthur hesitou, mas viu a determinação nos olhos de Gawain. "Que seja, então. O desafio é seu, Sir Gawain."
Gawain pegou o machado gigante. O Cavaleiro Verde desceu de seu cavalo e se ajoelhou, inclinando a cabeça para expor o pescoço.
"Dê seu golpe, Sir Gawain! Não tenha medo!"
Gawain levantou o machado no ar. Respirou fundo. Então, com toda sua força, ele golpeou!
SHWACK!
A cabeça do Cavaleiro Verde voou pelo ar e rolou pelo chão!
Todos esperavam que o corpo caísse morto. Mas não!
O corpo sem cabeça se levantou! Caminhou calmamente até onde sua cabeça havia rolado. Pegou-a pelos cabelos e a levantou!
Os olhos da cabeça se abriram! A boca falou!
O Cavaleiro Verde montou seu cavalo - ainda segurando sua própria cabeça! Ele cavalgou para fora do salão, e as portas se fecharam atrás dele.
O silêncio no salão era absoluto. O que haviam acabado de presenciar?
Gawain olhou para o machado em suas mãos. Ele havia feito um juramento. Daqui a um ano, teria que encontrar o Cavaleiro Verde e receber um golpe de machado no pescoço!
Arthur ordenou: "Este machado será pendurado acima da Távola Redonda, para lembrar a todos do juramento de Sir Gawain."
O ano passou rapidamente. Verão, outono, inverno... Gawain viveu como sempre, lutando e sendo um bom cavaleiro. Mas ele nunca esqueceu sua promessa.
Quando o outono chegou novamente, Gawain sabia que era hora de partir.
No dia de Todos os Santos, ele se vestiu com sua melhor armadura. Em seu escudo, havia um pentágono dourado - símbolo de suas cinco virtudes: generosidade, fraternidade, castidade, cortesia e compaixão.
Arthur e todos os cavaleiros estavam tristes. Gawain estava indo encontrar a morte! Como poderia sobreviver a um golpe de machado no pescoço?
Mas Gawain era corajoso. "Dei minha palavra. Um cavaleiro não quebra sua palavra!"
Ele montou seu cavalo e partiu em busca da Capela Verde.
Gawain viajou por muitas terras desoladas. Lutou contra lobos, ursos e bandidos. Passou frio nas montanhas e calor nos vales. Mas ninguém sabia onde ficava a Capela Verde!
Na véspera de Natal, quando Gawain estava quase desistindo, ele viu um lindo castelo numa floresta.
Ele bateu nos portões e foi recebido pelo senhor do castelo - um homem grande, alegre e hospitaleiro, com barba vermelha.
"Seja bem-vindo, Sir Gawain! Fique conosco para o Natal! A Capela Verde fica perto daqui. Você pode ir lá no dia marcado!"
Gawain ficou aliviado e grato. Ele passou o Natal no castelo.
O senhor propôs um jogo: "Vou sair caçar por três dias. Tudo o que eu caçar, darei a você. E tudo o que você ganhar aqui no castelo, dará a mim. Aceita?"
Gawain aceitou. Parecia um jogo inofensivo.
Nos três dias seguintes, coisas estranhas aconteceram.
O senhor saía para caçar. Gawain ficava no castelo descansando. Mas a esposa do senhor vinha visitá-lo e tentava seduzi-lo com palavras doces e belos presentes!
Gawain estava num dilema terrível! Ela era linda e gentil, mas ele era um cavaleiro honrado! Não podia trair a hospitalidade de seu anfitrião!
No primeiro dia, ela lhe deu um beijo. À noite, Gawain deu um beijo ao senhor (como parte do jogo).
No segundo dia, dois beijos. Gawain deu dois beijos ao senhor.
No terceiro dia, três beijos... e um cinto verde mágico!
"Este cinto protegerá você de qualquer ferimento!" ela disse. "Use-o quando encontrar o Cavaleiro Verde!"
Gawain aceitou o cinto. À noite, deu três beijos ao senhor... mas NÃO mencionou o cinto.
Pela primeira vez, Gawain havia quebrado sua palavra. Ele havia escondido algo.
No dia marcado, Gawain partiu para a Capela Verde. Encontrou um lugar sinistro - uma gruta verde próxima a um riacho.
E lá estava ele: o Cavaleiro Verde, afiando seu machado!
"Ah, Sir Gawain! Você veio! Você manteve sua palavra! Agora, ajoelhe-se e receba seu golpe!"
Gawain ajoelhou-se e expôs o pescoço. Seu coração batia forte, mas ele não fugiria!
O Cavaleiro Verde levantou o machado. Gawain ouviu o assobio dele cortando o ar!
Ele não pôde evitar - estremeceu!
O machado parou a centímetros de seu pescoço.
"Ah!" zombou o Cavaleiro Verde. "Os cavaleiros de Camelot tremem?"
"Golpeie novamente!" disse Gawain, determinado. "Não vou me mover!"
O Cavaleiro Verde levantou o machado novamente. Desta vez, Gawain não se moveu.
O machado desceu... e parou novamente!
"Mais uma vez," disse o Cavaleiro Verde, sorrindo.
Pela terceira vez, ele levantou o machado. Desta vez, ele golpeou de verdade!
Mas apenas arranhou levemente o pescoço de Gawain! Um pequeno corte que mal sangrou!
Gawain pulou de pé, aliviado. "Recebi meu golpe! Minha honra está satisfeita! Agora, se atacar novamente, vou me defender!"
O Cavaleiro Verde riu alto. "Não precisa! Seu teste acabou!"
Então aconteceu algo incrível. O Cavaleiro Verde mudou! Sua pele verde desapareceu. Ali estava o senhor do castelo - o homem de barba vermelha!
"Os três golpes eram testes," explicou ele. "Duas vezes você foi perfeitamente honesto - devolveu os beijos. Por isso, duas vezes poupei você. Mas no terceiro dia, você escondeu o cinto verde. Por isso, o pequeno corte no pescoço - uma marca de sua pequena desonestidade."
Gawain ficou envergonhado. Ele havia falhado! Havia escondido o cinto por medo!
"Perdoe-me!" disse Gawain. "Fui covarde! Guardei o cinto porque tinha medo de morrer!"
"Você é humano," disse o Cavaleiro. "E você é honesto sobre sua falha. Isso também é honra! Guarde o cinto verde como lembrança - perfeição é impossível, mas devemos sempre buscar ser melhores!"
Gawain voltou para Camelot, usando o cinto verde sobre sua armadura - uma lembrança de humildade.
Ele contou toda a história. Os cavaleiros o abraçaram e disseram: "Todos nós teríamos falhado pior! Você foi honesto sobre sua falha. Isso é verdadeira nobreza!"
E desde então, todos os Cavaleiros da Távola Redonda usaram um cinto verde, para lembrar que são humanos, não perfeitos - mas devem sempre buscar honra e verdade!
Reflexão



