Havia um rei chamado Acrísio, que governava a cidade de Argos na Grécia. Ele era poderoso e rico, mas tinha apenas uma filha - Dânae - e nenhum filho homem para herdar seu trono.
"Terei um herdeiro?" perguntou Acrísio ao Oráculo de Delfos, o templo sagrado onde uma sacerdotisa falava profecias dos deuses.
A Pítia (a sacerdotisa) entrou em transe. Seus olhos se reviraram. E ela falou com voz que não era sua:
Mas tua filha terá um filho.
E esse neto te matará!"
Acrísio ficou gelado de horror. Seu próprio neto o mataria? Impossível. Ele não deixaria isso acontecer.
Acrísio teve uma ideia terrível: "Se Dânae nunca se casar, nunca terá filhos! E sem neto, a profecia não pode se cumprir!"
Ele construiu uma câmara de bronze - um quarto subterrâneo com paredes de metal. E lá, ele aprisionou sua própria filha.
Dânae chorou e implorou. "Pai! Por favor! Não me tranque aqui!"
Mas Acrísio era inflexível. "É para teu próprio bem," mentiu ele. "E para o bem do reino!"
Dânae ficou trancada na câmara de bronze. Apenas uma pequena abertura no teto deixava entrar luz e ar. Servas traziam comida, mas ela não podia sair.
Anos passaram. Dânae vivia sozinha, olhando pelo buraquinho no teto para o céu distante, sonhando com liberdade...
Mas do alto do Monte Olimpo, Zeus - Rei dos Deuses - olhava para a Terra. E ele viu Dânae, linda e solitária em sua prisão.
Zeus se apaixonou. Mas como poderia visitá-la? A câmara de bronze não tinha porta. As paredes eram impenetráveis.
Então Zeus usou seus poderes divinos. Ele se transformou em algo que podia passar pela pequena abertura no teto: uma chuva de ouro.
Gotas douradas e brilhantes caíram pela abertura. Dânae olhou maravilhada enquanto ouro líquido e mágico dançava ao seu redor, brilhando com luz divina.
Era Zeus, visitando-a de forma mágica e sobrenatural.
E dessa visita divina, Dânae engravidou. O bebê dentro dela era filho de Zeus, o Rei dos Deuses.
Meses depois, Dânae deu à luz um bebê lindo e saudável. Ela o chamou de Perseu.
Dânae conseguiu manter o bebê escondido por um tempo, mas bebês choram. Eventualmente, Acrísio ouviu o choro vindo da câmara de bronze.
"Impossível!" rugiu ele, abrindo a câmara. "Como você tem um bebê?"
"Zeus me visitou," disse Dânae calmamente, segurando Perseu. "Este é filho do Rei dos Deuses! Teu neto!"
Acrísio ficou pálido. A profecia. O neto que o mataria havia nascido. Mas... era filho de Zeus. Se Acrísio matasse o bebê diretamente, Zeus o destruiria.
"Não posso matá-los," murmurou Acrísio. "Mas também não posso mantê-los aqui!"
Ele teve outra ideia terrível...
Acrísio mandou construir uma caixa de madeira grande - quase como um pequeno barco. Ele colocou Dânae e o bebê Perseu dentro da caixa.
"Se os deuses realmente protegem esta criança," disse Acrísio friamente, "que eles os salvem."
E ele jogou a caixa fechada no mar.
Dânae gritou e segurou Perseu enquanto a caixa batia nas ondas. Água entrava pelos lados. Eles balançavam violentamente.
"Por favor, Zeus!" orou Dânae. "Você é o pai desta criança! Salva-nos!"
E Zeus ouviu. Ele acalmou os mares. Poseidon, senhor dos oceanos (irmão de Zeus), criou uma corrente suave que levou a caixa com segurança pelas águas.
Por dias, a caixa flutuou. Dânae deu seu leite ao bebê Perseu. Chuva divina caiu para lhes dar água doce. Peixes pulavam na caixa trazendo alimento.
Finalmente, a caixa chegou à ilha de Sérifos.
Um pescador humilde chamado Díctis estava pescando quando viu a caixa flutuando. "O que é isto?" pensou ele, puxando-a com sua rede.
Quando abriu, ficou chocado. Uma mulher linda e um bebê, molhados mas vivos.
"Quem sois?" perguntou Díctis gentilmente.
"Sou Dânae, princesa de Argos," disse ela. "E este é meu filho Perseu. Fomos exilados por meu pai..."
Díctis era bondoso. "Venham! Vivam em minha casa! Cuidarei de vocês como se fossem minha própria família!"
E assim, Perseu cresceu na ilha de Sérifos. Díctis o tratou como filho. Perseu aprendeu a pescar, a nadar, a ser corajoso e bondoso.
Os anos passaram. Perseu cresceu forte e belo. Ele não sabia ainda que era filho de Zeus, mas havia algo especial nele - uma força, uma nobreza natural.
Mas havia um problema na ilha de Sérifos...
Polidectes, o rei da ilha (e irmão de Díctis), viu Dânae e se apaixonou! "Case-se comigo!" exigiu ele.
"Não!" disse Dânae firmemente. "Sou grata por tua hospitalidade, mas não te amo!"
Polidectes ficou furioso. Ninguém o rejeitava. Mas havia um obstáculo: Perseu.
Perseu, agora um jovem forte, protegia sua mãe. "Minha mãe disse não. Respeite sua decisão."
Polidectes odiava Perseu. "Se eu pudesse me livrar deste rapaz," pensou ele, "Dânae ficaria sozinha e teria que aceitar me casar."
Polidectes criou um plano malicioso...
Polidectes anunciou: "Vou me casar!" (mentira) "E convido todos os nobres da ilha para o banquete de noivado. Cada convidado deve trazer um presente - um cavalo."
Todos os ricos da ilha tinham cavalos para dar. Mas Perseu e Díctis eram pescadores humildes. Não tinham cavalos.
Perseu, orgulhoso, foi falar com Polidectes. "Senhor, não tenho cavalo para dar. Mas trarei qualquer outro presente que desejares."
Polidectes sorriu maliciosamente. Era exatamente o que queria ouvir.
"Qualquer presente?" perguntou ele.
"Qualquer um!" prometeu Perseu sem pensar.
"Então," disse Polidectes lentamente, "traze-me a cabeça da Medusa!"
A sala ficou em silêncio chocado.
Medusa? A Medusa? Uma das três Górgonas - monstros terríveis com serpentes no lugar de cabelo? A Medusa cujo olhar transformava qualquer pessoa em pedra?
Era uma missão suicida. Ninguém que procurou Medusa jamais voltou.
Díctis puxou Perseu de lado. "Não! Não aceites! É uma armadilha! Polidectes quer que morras!"
Mas Perseu era jovem e orgulhoso. "Dei minha palavra. Trarei a cabeça da Medusa, ou morrerei tentando."
"Mas filho," disse Dânae, chorando, "ninguém sobrevive a Medusa! Um olhar e serás transformado em estátua de pedra!"
"Então não olharei para ela," disse Perseu com determinação. "Encontrarei uma forma!"
Naquela noite, Perseu foi à praia, preparando-se para partir. Ele não tinha armas, não tinha plano, não sabia nem onde Medusa vivia.
Mas ele tinha algo que não sabia: tinha sangue divino. Era filho de Zeus.
E os deuses estavam assistindo...
Quando o sol nasceu, Perseu olhou para o céu. "Pai," disse ele (pois Dânae havia finalmente lhe contado), "se realmente és Zeus, se realmente sou teu filho... ajuda-me agora! Preciso de orientação para esta missão impossível!"
E Zeus ouviu.
A história continuará na Parte 2, onde Perseu receberá ajuda divina, enfrentará as terríveis Greias, e finalmente... enfrentará a Medusa.
Reflexão



